Como se pratica
Todos nós temos a capacidade para estar atentos e tudo o que a prática de Mindfulness requer é o desenvolvimento dessa nossa capacidade de prestar atenção no momento presente, suspendendo o nosso julgamento ou, pelo menos, estando conscientes quanto ao julgamento está a acontecer dentro de nós.
O Mindfulness é uma forma particular de prestar atenção, com a consciência que surge através da prestar de atenção dessa forma. É uma forma de olhar profundamente para si mesmo, no espírito da autoinvestigação e da autocompreensão. Por essa razão, pode ser aprendido e praticado em programas baseados em Mindfulness como o MBSR (redução de stress baseado em mindfulness) ou o MBCT (terapia cognitiva baseada em mindfulness).
O cultivo sistemático do mindfulness tem origem na meditação budista que floresceu nos últimos 2.600 anos em cenários monásticos e seculares em muitos países asiáticos. Nas décadas de 1960 e 1970, a prática deste tipo de meditação difundiu-se no mundo. Embora, até à criação do programa MBSR, a meditação mindfulness fosse mais frequentemente ensinada e praticada em contexto budista, a sua essência é e sempre foi universal. Atualmente, está a ser cada vez utilizada em contextos de saúde, educação, em inúmeras empresas e até no Parlamento Britânico.
O Mindfulness é um poderoso veículo para o autoconhecimento e não depende de qualquer sistema de crença ou ideologia. Os seus potenciais benefícios são, portanto, acessíveis a qualquer pessoa para testar por si mesmo. No entanto, não é por acaso que o mindfulness tem origem no budismo, que tem como principal preocupação o alívio do sofrimento e a dissipação das ilusões.
Desperdiçamos, rotineiramente e sem nos apercebermos, enormes quantidades de energia na reação automática e inconsciente ao mundo exterior e às nossas próprias experiências interiores. Cultivar Mindfulness significa aprender a aproveitar e a focar as nossas próprias energias desperdiçadas. Ao fazê-lo, aprendemos a acalmar-nos o suficiente para entrar e viver momentos prolongados de profundo bem-estar e relaxamento, de nos sentirmos inteiros e totalmente integrados como pessoa. Ao provarmos e vivermos a nossa própria totalidade alimenta e restaura tanto o corpo como a mente. Em simultâneo, torna-se mais fácil ver com maior clareza a forma como realmente vivemos e, assim, como podemos fazer alterações para melhorar a nossa saúde e a qualidade da nossa vida. Além disso, ajuda-nos a canalizar a nossa energia de forma mais eficaz em situações de stress, ou quando nos sentimos ameaçados ou indefesos. Esta energia vem de dentro de nós, pelo que está sempre disponível para a utilizarmos com sabedoria, especialmente se a cultivarmos através da formação e da prática pessoal.
Cultivar o mindfulness pode levar à descoberta dentro de si mesmo de espaços profundos de bem-estar, calma, clareza e discernimento. É como se se deparasse com um novo território, até então desconhecido para si ou apenas vagamente imaginado, que contém uma verdadeira fonte de energia positiva para autoconhecimento e cura. Além disso, é fácil familiarizar-se com esse território e aprender a habitá-lo com mais frequência. O caminho para isso encontra-se a qualquer momento no seu próprio corpo e mente e na sua própria respiração. Este domínio de puro ser, de estar acordado, está sempre acessível para si. Está sempre aqui, independente dos seus problemas. Quer esteja a enfrentar doenças cardíacas, cancro ou dor ou apenas uma vida muito stressante, as suas energias podem ser de grande valor para si.
(texto traduzido e adaptado a partir do livro de Jon Kabat-Zinn, “Full Catastrophe Living”, 2.ª edição, Bantam Books, 2013)